sábado, 3 de fevereiro de 2018

Sobre o livro: O guardião de memórias, de Kim Edwards

Título: O guardião de memórias
Título original: The memory keeper's daughter
Autora: Kim Edwards
Editora: Arqueiro
Edição: 1ª ed.
Ano: 2008
Número de páginas: 319 páginas
SinopseCom mais de três milhões de exemplares vendidos nos Estados Unidos, O Guardião de Memórias é uma fascinante história sobre vidas paralelas, famílias separadas pelo destino, segredos do passado e o infinito poder do amor verdadeiro. Inverno de 1964. Uma violenta tempestade de neve obriga o Dr. David Henry a fazer o parto de seus filhos gêmeos. O menino, primeiro a nascer, é perfeitamente saudável, mas o médico logo reconhece na menina sinais da síndrome de Down. Guiado por um impulso irrefreável e por dolorosas lembranças do passado, Dr. Henry toma uma decisão que mudará para sempre a vida de todos e o assombrará até a morte: ele pede que sua enfermeira, Caroline, entregue a criança para adoção e diz à esposa que a menina não sobreviveu. Tocada pela fragilidade do bebê, Caroline decide sair da cidade e criar Phoebe como sua própria filha. E Norah, a mãe, jamais consegue se recuperar do imenso vazio causado pela ausência da menina. A partir daí, uma intrincada trama de segredos, mentiras e traições se desenrola, abrindo feridas que nem o tempo será capaz de curar. A força deste livro não está apenas em sua construção bem amarrada ou no realismo de seus personagens, mas, principalmente, na sua capacidade de envolver o leitor da primeira à última página. Com uma trama tensa e cheia de surpresas, O Guardião de Memórias vai emocionar e mostrar o profundo - e às vezes irreversível - poder de nossas escolhas.
Avaliação do NMW:

     Esse livro foi uma bela surpresa para mim. Estava na minha estante há muito tempo e eu ainda não o havia lido, nem tinha ideia do que esperar da leitura. É um romance que foge do habitual, do típico clichê que vem à mente ao se ouvir a palavra "romance". Uma história profunda, marcante e intrincada, ao mesmo tempo bela e triste.
"Era o tipo de nevasca que raramente acontecia em Lexington, e os flocos brancos e contínuos, aliados ao silêncio, encheram-no de uma sensação de paz. Foi um momento em que todos os retalhos díspares de sua vida pareceram costurar-se, com todas as tristezas e decepções passadas, todos os segredos e incertezas angustiantes escondendo-se sob as camadas brancas e macias. [...] O mundo, por algumas breves horas, transformava-se." (p.11-12)
     A escrita de Kim Edwards é extremamente detalhista, mas ao mesmo tempo leve e cativante. A autora destaca os elementos certos, os detalhes que nos passariam despercebidos normalmente e, além do mais, consegue mesclar o presente e as lembranças do passado de uma forma que torna sua escrita fluída - quando você vê, mergulhou na história e já leu diversas páginas, sem nem mesmo perceber.
"Em toda aquela tarde ensolarada, viajando para o norte e para o leste, Caroline sentiu absoluta confiança no futuro. E por que não sentiria? Afinal, se aos olhos do mundo o pior já lhes havia acontecido, então, com certeza, era o pior que elas estavam deixando para trás." (p.61)
     A narrativa acompanha diferentes personagens e suas vidas, diferentes, mas marcadas por um acontecimento: a noite de nevasca em que Paul e Phoebe, os filhos gêmeos de Norah e David Henry nasceram. Foi naquela noite em que David Henry se viu levado a fazer o parto de seus próprios filhos, com a ajuda da enfermeira Caroline Gill, que os caminhos da vida de todos eles foram traçados de um modo irreversível. Dr. Henry, ao ver que a filha deles tinha síndrome de Down, resolvera poupar sua esposa e entregara a pequena à Caroline, para que essa a levasse embora, dizendo à esposa que a menina havia falecido. A vida de todos eles é marcada por essa escolha. David passa a carregar o peso da mentira, Norah nunca se recupera da ausência de sua filha, Paul sente falta da irmã que nunca teve e Caroline cuida da menina e se encanta por ela, como se fosse sua própria filha.

"- A fotografia tem tudo a ver com segredos - disse, após alguns minutos, levantando a foto com uma pinça e mergulhando-a no fixador. - Os segredos que todos temos e nunca revelamos.
- A música não é assim - disse Paul, e David ouviu a rejeição na voz do filho. Levantou os olhos, mas era impossível ver a expressão dele sob a tênue luz vermelha. - A música é como tocar a pulsação do mundo. A música está sempre acontecendo. Às vezes a gente consegue tocá-la por um momento e, quando consegue, sabe que tudo está ligado a tudo." (p.163)

     O fato da narrativa acompanhar os pontos de vistas de diferentes personagens a cada capítulo, acompanhando seus pensamentos e compreendendo seus sentimentos, permite ao leitor compreender os diferentes lados desse intrincado romance. Os personagens são muito bem desenvolvidos e tão bem construídos que poderiam ser pessoas que você mesmo conhece.
     Cada personagem tem sua luta particular e a escrita de Kim Edwards nos faz entrar na vida desse personagem, compreendê-los e então ter admiração, dó ou raiva dele. Até mesmo a terrível e deplorável atitude de David Henry se justifica, baseado em sua própria história de vida, que mais tarde o leitor vai conhecendo. As andanças de Norah, sentindo-se sempre perdida e indo para lá e para cá sem encontrar a si mesma em lugar nenhum também é perfeitamente compreensível e traz até um sentimento de angústia para o leitor, uma vontade de entrar na história e fazer algo para ajudar aqueles corações tristes e perturbados.
"Um instante não era apenas um instante, mas uma infinidade de instantes diferentes, dependendo de quem olhasse para as coisas e como." (p.172)
     O guardião de memórias não traz uma história feliz. Na verdade, o romance tem um toque bem realista, mostrando a vida como ela mesmo é - e inclusive deixando bem claro que se você não tomar uma decisão sobre o que quer ou não correr atrás de seus objetivos no agora, depois pode ser tarde demais, e aí já era. Não só isso. O romance também faz pensar nas escolhas que temos em nossa vida a cada dia e nas consequências que essas escolhas e nossas atitudes podem ter no futuro, e não apenas em relação a nós mesmos. Também mostra que não adianta querer enterrar a verdade, pois no fim ela acabará vindo à tona de alguma maneira. E, por último, a história nos faz refletir sobre a vida, sobre o fato de que tudo tem um sentido para ser exatamente do jeito que é - David Henry, por exemplo, tomou sua decisão tentando, à sua maneira, proteger a esposa, mas, ao tentar "consertar" tudo do seu modo, acabou deixando tudo muito pior.
"Na época em que trabalhava no consultório de David Henry, ela era tão jovem, tão solitária e ingênua, que se imaginava uma espécie de recipiente a ser enchido de amor. Mas não era nada disso. O amor estivera dentro dela o tempo todo e só se renovava ao ser doado." (p.195)
    Ao mesmo tempo em que, de um lado, acompanhamos o vazio e o sofrimento daqueles que convivem com a falta de Phoebe, de outro acompanhamos a vida dela, a partir do ponto de vista de Caroline. Caroline é uma personagem forte e decidida, que bate de frente com os obstáculos que surgem no caminho - e, considerando que Phoebe tinha síndrome de Down e que a história se passa a partir de 1964, os obstáculos a serem enfrentados eram muitos. Mas Caroline consegue superá-los um a um, construindo uma vida boa para sua menina e fazendo com que ela seja feliz.
"Chovia mais forte e o cabelo de Caroline estava empapado, mas ela não se mexeu. O que tinha sido um vazio, do lado de fora da janela do bar, um vazio soturno, muito real e assustador, foi banido pela visão de sua família. [...] No escuro do jardim, enquanto os eternos carros sibilavam pela pista, iluminando com os faróis as moitas de lilases que ela plantara muitos anos antes como um anteparo, deteve-se por mais um instante. Essa era sua vida. Não a vida com que um dia havia sonhado ou desejado, mas a vida que ela levava, com todas as suas complexidades. Essa era sua vida, construída com zelo e atenção, e era boa." (p.201)
     É uma história sobre erros do passado, sonhos para o futuro, medos, mágoas, alegrias... Esse livro consegue misturar tudo isso, resultando em uma história sensível, tocante e inspiradora. Até a metade do livro, mais ou menos, eu estava certa de que esse livro iria para os meus favoritos, pois a escrita de Kim Edwards tornou a história perfeita para mim. Porém, de algum ponto na metade para o final, a história deu uma desandada e se tornou mais lenta, arrastada e, sim, um pouco cansativa. Porém, não deixa de ser uma boa história e de ter sido uma ótima leitura.
"A voz de Phoebe, aguda e clara, correu por entre as folhas, pela luz do sol. Respingou no cascalho, na grama. Paul imaginou as notas caindo no ar feito pedras na água, gerando ondas na superfície invisível do mundo. Ondas sonoras, ondas de luz. Seu pai tinha tentado fixar tudo, mas o mundo era fluido e impossível de conter." (p.318)
     Em suma, a história é realista e, ao começar a leitura, é bom que se saiba que provavelmente o final não vai ser aquele finalzinho encantador que você pode esperar. Isso particularmente não me surpreendeu, pois a história é densa e repleta de mágoas e tristezas, então eu já esperava que as coisas não iriam ficar acertadas no final. É uma história impactante e realista, mas que faz refletir - muito depois de se ter virado a última página.
     Esse é mais um livro que li da minha Meta de Leitura 2018, veja mais sobre esta AQUI.
Por Lerissa Kunzler

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