sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Lembranças de uma manhã de outono.

     Era cedo. Uma manhã fria de Outono. Eu caminhava sem rumo, como sempre costumava fazer quando não tinha nada específico para fazer. Gostava de apenas caminhar e observar o mundo à minha volta, os lugares, as pessoas. E deixar meus pensamentos livres.
     Geralmente, me surgia uma ideia ou outra nesses momentos e eu a anotava apressadamente em minha caderneta, com medo de esquecê-la, o que provavelmente aconteceria se eu não fizesse isso. Eu gostava de escrever poesias, de criar versos, brincar com as palavras. E minha maior fonte de inspiração era, sem dúvida alguma, a própria vida. E as pessoas. Me dava gosto observá-las.
     Por vezes eu me sentava em um daqueles banquinhos de madeira à borda do trilho e ficava olhando incansavelmente. Via as folhas caírem da árvore, seguindo lentamente em direção ao chão, onde já se acumulava uma porção delas. Eu achava lindo quando o chão adquiria uma coloração vermelha ou amarelada devido à quantidade de folhas que havia ali.
     Aos poucos, conforme o sol se levantava no céu, começavam a transitar por ali algumas pessoas. Era comum muitas delas passarem por ali quando iam trabalhar. Ou então virem ali simplesmente por gostarem do lugar, como no meu caso. Eu observava a face das pessoas e ficava imaginando quem seriam, como seriam suas vidas, quais seriam seus sonhos ou o que estavam pensando.
     Muitas passavam por mim sem nem sequer me notarem. Estavam com pressa, iam para o trabalho. Algum tempo depois, a quantia de pessoas diminuía consideravelmente e dava lugar a outras. Surgiam crianças, que corriam alegres e passavam por mim sorrindo, felizes com a própria vida. Algumas gostavam de fazer montes com as folhas do chão e depois juntar tudo e jogar para cima. Ás vezes, várias delas faziam isso juntas. E riam às gargalhadas como se aquilo fosse a coisa mais bonita do mundo. E de certa forma era.
     Alguns levavam seus cachorros para passear, ou então aproveitavam a manhã para correr e se exercitarem. Outros voltavam da padaria com sacolas de pães, certamente para prepararem o café da manhã. Era fascinante observá-los. Passavam por mim sorrisos alegres, olhares pensativos, expressões sonolentas, algumas tristes, outras eufóricas.
     E foi num desses dias que eu o vi. Vinha caminhando despreocupadamente, passos lentos, fones no ouvido, uma jaqueta preta e all star branco. Olhava para o outro lado, mãos nos bolsos, os curtos cabelos sendo balançados pela brisa da manhã. Quem seria? De onde vinha?
      Não pude desviar meu olhar. Ele se aproximava aos poucos. Quando finalmente virou sua cabeça, seus olhos se focaram em mim. Eram de uma cor intensa e por alguns instantes ele franziu a testa, como se também perguntasse a si mesmo o que eu estaria fazendo ali. Mas continuou a caminhar no mesmo ritmo distraído de antes, baixando seu olhar.
     Nas suas mãos, um livro de capa azul escura. Estaria lendo, estudando, ou pretendia descobrir algo? Eu me sentia curiosa a respeito dele. Durante os tantos dias que eu estivera ali, eu observara muitas pessoas, mas nenhuma mexera comigo a ponto de me deixar intrigada dessa maneira. Antes de se afastar no ritmo de seus passos, seus olhos encontraram os meus uma vez mais. E havia um sorriso em seus lábios. Um sorriso sincero e inesperado, que iluminava sua face. Então ele se foi.
     Há pequenos momentos que simplesmente acontecem, mas que nos marcam profundamente. Eu não sabia se voltaria a vê-lo outra vez, mas observei-o se afastar sem fazer nem falar nada. Havia algo em mim que eu não sabia definir, mas que me dava a certeza de que sim, que eu ainda iria revê-lo.
     Talvez muito em breve.
Da autoria de Lerissa Kunzler.

4 comentários:

  1. Nossa!!! Eu amei, quanta criatividade, nunca pensaria em algo assim antes! Muito lindo, parabéns!

    Beijinhos

    http://hayebianaleitura.blogspot.com.br/

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    Respostas
    1. Que bom que você gostou, fico tão feliz em saber disso!!! Obrigada!!! :D
      E obrigada também por passar por aqui, beijos!

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